Escrito por Rogério Sganzerla em 1968,durante as filmagens de "O Bandido da Luz Vermelha".
1-Meu filme é um far-west sobre o terceiro mundo.Isto é,fusão e mixagem de vários gêneros.Fiz um filme-soma;um far-west mas também musical,documentário,policial,comédia(ou chanchada?)e ficção científica.Do documentário,a sinceridade(Rosselini);do policial,a violência(Fuller);da comédia,o ritmo anárquico(Sennett,Keaton);do western,a simplificação brutal dos conflitos(Mann).
2-O Bandido da Luz Vermelha persegue,ele,a polícia enquanto os tiras fazem reflexões metafísicas,meditando sobre a solidão e a incomunicabilidade.
Quando um personagem não pode fazer nada,ele avacalha.
3-Orson Welles me ensinou a não separar a política do crime.
4-Jean-Luc Godard me ensinou a filmar tudo pela metade do preço.
5-Em Gláuber Rocha conheci o cinema de guerrilha filmado à base de planos gerais.
6-Fuller foi quem me mostrou como desmontar o cinema tradicional através da montagem.
7-Cineasta do excesso e do crime,José Mojica Marins me apontou a poesia furiosa dos atores do Brás,das cortinas e ruínas cafajestes e de seus diálogos aparentemente banais.Mojica e o cinema japonês me ensinaram a saber ser livre e-ao mesmo tempo-acadêmico.
8-O solitário Murnau me ensinou a amar o plano fixo acima de todos os travellings.
9-É preciso descobrir o segredo do cinema de Luis poeta e agitador Buñuel,anjo exterminador.
10-Nunca se esquecendo de Hitchcock,Eisenstein e Nicholas Ray.
11-Porque o que eu queria mesmo era fazer um filme mágico e cafajeste cujos personagens fossem sublimes e boçais,onde a estupidez-acima de tudo-revelasse as lei secretas da alma e do corpo subdesenvolvido.
Quis fazer um painel sobre a sociedade delirante,ameaçada por um criminoso solitário.
Quis dar esse salto porque entendi que tinha de filmar o possível e o impossível num país subdesenvolvido.Meus personagens são,todos eles,inutilmente boçais-aliás,como 80% do cinema brasileiro:desde a estúpidez trágica do Corisco à bobagem de Boca de Ouro,passando por Zé do Caixão e pelos párias de Barravento.
12-Estou filmando a vida do Bandido da Luz Vermelha como poderia estar contando os milagres de São João Batista,a juventude de Marx ou as aventuras de Chateaubriand.É um bom pretexto para refletir sobre o Brasil na década de 60.Nesse painel,a política e o crime identificam personagens do alto e do baixo mundos.
13-Tive de fazer cinema fora da lei aqui em São Paulo porque quis dar um esforço total em direção ao filme brasileiro libertador,revolucionário também nas panorâmicas,na câmara fixa e nos cortes secos.O ponto de partida de nossos filmes deve ser a instabilidade do cinema-como também da nossa sociedade,da nossa estética,dos nossos amores e do nosso sono.Por isso,a câmara é indecisa;o som fugidio;os personagens medrosos.Nesse país tudo é possível e por isso o filme pode explodir a qualquer momento.
quinta-feira, 20 de dezembro de 2007
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Um comentário:
Que brega, hein Pitol ?
Agora posso entrar no seu blog todos os dias... (puta piada besta)
Fino o "Manifesto".
ATT: Coxinha
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