quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Um Adendo

A respeito do DVD do Bandido...,também constam nos extras uma entrevista realizada em 2004 com Rogério Sganzerla e Sylvio Renoldi,extraída do documentário em curta-metragem"O GALANTE REI DA BOCA",de Alessandro Gamo,sobre o mítico produtor da Boca do Lixo,Antonio Polo Galante.

Mais Jodorowsky

Segue abaixo a filmografia completa de El Brujo:

-A Gravata(La Cravate),França,1957(curta-metragem)
adaptado do conto de Thomas Mann,com roteiro assinado em parceria com Jean Cocteau.

-Fando e Lis(Fando y Lis),México,1968
adaptado da peça de Fernando Arrabal.

-El Topo,México,1970

-A Montanha Sagrada(The Holy Mountain),México,1973

-Tusk,França,1980

-Santa Sangre,Itália/México,1989

-O Ladrão do Arco-Íris(The Rainbow Thief),Inglaterra,1990
único filme cujo roteiro não é assinado por Jodo.no elenco,astros como:Peter O'Toole,Omar Sharif e Christopher Lee.

nenhum dos filmes está disponível para locação ou venda no Brasil(demorou para lançarem por aqui a bela caixa gringa),mas são encontrados facilmente nos emules da vida.

Um Cineasta Para O Novo Milênio

Rogério freqüentemente é citado como alguém que chegou tarde demais-depois do Cinema Novo.No entanto,quando tive a oportunidade de ver uma seleção de seus filmes no Festival de Turim de 2004-sempre exibidos para grandes platéias populares,que gostavam do que viam-percebi que ele estava décadas à fente do seu tempo.Hoje em dia,o cinema europeu e hollywoodiano que ele admirava está,em grande parte,moribundo,e um novo tipo de cinema surgia na Coréia,Tailândia,Hong Kong,Taiwan e até mesmo na China,onde o cinema de gênero frqüentemente coexiste com a experimentação formal e o radicalismo político,exatamente como em O BANDIDO DA LUZ VERMELHA,A MULHER DE TODOS e O SIGNO DO CAOS.
Espero que os textos de Rogério sejam traduzidos e seus filmes exibidos em todas essas línguas e em todos esses países,para alimentar a renascença que está ocorrendo agora na Ásia,e,brevemente na África,Europa Central,Oriente Médio(por que não?)e em toda a América Latina,começando pelo Brasil,onde ele viveu,escreveu e filmou.
Os últimos 50 anos do milênio anterior pertenceram a Orson Welles,a quem ele amava;a primeira metade do novo milênio pertencerá a Rogério Sganzerla.

Bill Krohn
Cahiers du Cinéma

Manifesto.

Escrito por Rogério Sganzerla em 1968,durante as filmagens de "O Bandido da Luz Vermelha".


1-Meu filme é um far-west sobre o terceiro mundo.Isto é,fusão e mixagem de vários gêneros.Fiz um filme-soma;um far-west mas também musical,documentário,policial,comédia(ou chanchada?)e ficção científica.Do documentário,a sinceridade(Rosselini);do policial,a violência(Fuller);da comédia,o ritmo anárquico(Sennett,Keaton);do western,a simplificação brutal dos conflitos(Mann).

2-O Bandido da Luz Vermelha persegue,ele,a polícia enquanto os tiras fazem reflexões metafísicas,meditando sobre a solidão e a incomunicabilidade.
Quando um personagem não pode fazer nada,ele avacalha.

3-Orson Welles me ensinou a não separar a política do crime.

4-Jean-Luc Godard me ensinou a filmar tudo pela metade do preço.

5-Em Gláuber Rocha conheci o cinema de guerrilha filmado à base de planos gerais.

6-Fuller foi quem me mostrou como desmontar o cinema tradicional através da montagem.

7-Cineasta do excesso e do crime,José Mojica Marins me apontou a poesia furiosa dos atores do Brás,das cortinas e ruínas cafajestes e de seus diálogos aparentemente banais.Mojica e o cinema japonês me ensinaram a saber ser livre e-ao mesmo tempo-acadêmico.

8-O solitário Murnau me ensinou a amar o plano fixo acima de todos os travellings.

9-É preciso descobrir o segredo do cinema de Luis poeta e agitador Buñuel,anjo exterminador.

10-Nunca se esquecendo de Hitchcock,Eisenstein e Nicholas Ray.

11-Porque o que eu queria mesmo era fazer um filme mágico e cafajeste cujos personagens fossem sublimes e boçais,onde a estupidez-acima de tudo-revelasse as lei secretas da alma e do corpo subdesenvolvido.
Quis fazer um painel sobre a sociedade delirante,ameaçada por um criminoso solitário.
Quis dar esse salto porque entendi que tinha de filmar o possível e o impossível num país subdesenvolvido.Meus personagens são,todos eles,inutilmente boçais-aliás,como 80% do cinema brasileiro:desde a estúpidez trágica do Corisco à bobagem de Boca de Ouro,passando por Zé do Caixão e pelos párias de Barravento.

12-Estou filmando a vida do Bandido da Luz Vermelha como poderia estar contando os milagres de São João Batista,a juventude de Marx ou as aventuras de Chateaubriand.É um bom pretexto para refletir sobre o Brasil na década de 60.Nesse painel,a política e o crime identificam personagens do alto e do baixo mundos.

13-Tive de fazer cinema fora da lei aqui em São Paulo porque quis dar um esforço total em direção ao filme brasileiro libertador,revolucionário também nas panorâmicas,na câmara fixa e nos cortes secos.O ponto de partida de nossos filmes deve ser a instabilidade do cinema-como também da nossa sociedade,da nossa estética,dos nossos amores e do nosso sono.Por isso,a câmara é indecisa;o som fugidio;os personagens medrosos.Nesse país tudo é possível e por isso o filme pode explodir a qualquer momento.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Lançamento em DVD-Bandido da Luz Vermelha

Nessa última segunda 17,teve o lançamento do DVD de O Bandido da Luz Vermelha,a obra-prima de Rogério Sganzerla,no Espaço Unibanco.
Contando com a presença da musa Helena Ignez(viúva do diretor),do diretor de fotografia Carlos Ebert(que fez a câmara no filme,a fotografia é do alemão Peter Overbeck,antigo diretor de arte da Vera Cruz)e também com o diretor e redentor do cineclubismo paulista Carlos Reichenbach na banca.
Foi emocionante rever o filme mais uma vez em tela grande,devido ao magnífico restauro dos Estúdios Mega.
Pra quem não conhece,O Bandido... é uma obra seminal,totalmente á frente de seu tempo.
Filme anárquico,iconoclasta,a primeira grande declaração de amor e príncipios de Sganzerla ao cinema.
O filme está correndo vários festivais mundo afora(só este ano esteve em Turim e na Nova Zelândia),em breve indo para Seul.
Bom que se redescubra o Bandido...,filme essecial,talvez o mais importante de nossa cinematografia.
O DVD,parceria da Mercúrio Produções,dos Estúdios Mega, é distribuído pela Versátil, com fundamental apoio da Cinemateca Brasileira.
Contém ótimos extras:entrevistas com Helena Ignez,Ebert e o crítico Inácio Araújo;o trailer original,e principalmente dois curta-metragens:Documentário(raro primeiro filme de Sganzerla)
e B-12(feito em parceria com Sylvio Renoldi,montador de O Bandido...),em 2001,pouco antes da derradeira obra-prima O Signo do Caos.
Também constam no DVD o manifesto escrito por Sganzerla á época do lançamento do filme(1968)e um texto assinado por Bill Krohn,crítico da Cahiers du Cinema,exaltando a importância e genialidade da obra.
Documento histórico,início de um último grande cinema brasileiro.
Rogério deve estar feliz.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Um Desbunde(1)

Ah,Lucineide..profunda como um píres

Mas,que se fazer diante daquelas ancas?

Jodo no Centro.

Seminal foi a passagem de Alejandro Jodorowsky por São Paulo esses dias.
Em mostra organizada pelo CCBB,pôde-se apreciar em sua totalidade a forte cinematografia(inédita por aqui) do bruxo.
além de alguns gadgets preciosos como CABEZAS CORTADAS do gláuber,(que felizmente vi em vida)e um documentário francês vagabundo sobre o homenageado,que não me recordo o nome agora.
O mestre ainda nos brindou com uma explanação de seus pensamentos,abarrotando o pequeno auditório do CCBB de tarados visuais.
Parabéns aos curadores.
bem,começa aqui essa patifaria motivada em grande parte pela síndrome de fim-de-ano....
textos mal ajambrados sobre cinema em sua grande parte.
entusiastas da retomada..vão estudar.
passem longe daqui.